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O autocuidado como ferramenta para o educador

  • Foto do escritor: Rosana Giannoni
    Rosana Giannoni
  • 18 de jun. de 2020
  • 3 min de leitura

Falar para professores sobre o cuidar não seria tão desafiador quanto falar sobre o autocuidado. Afinal de contas, cuidar é verbo conjugado diariamente dentro de uma escola, dentro de uma sala de aula. Cuidar dos alunos. O mesmo não acontece com o tema do “autocuidado”. E por que será que é assim?

Lembro da primeira vez que vi um trabalho voltado para a saúde dos professores, foi numa campanha do conselho de fonoaudiologia sobre a importância do cuidado com a sua voz e isso já faz muitos anos. A voz é um instrumento de trabalho fundamental do professor. De lá pra cá tenho visto algumas iniciativas no sentido de oferecer aos professores técnicas de respiração e relaxamento para diminuir o alto nível de stress a que estão submetidos em sua rotina diária na educação. Esses são dois exemplos de cuidados que eu entendo estarem voltados a manter a saúde necessária para que os professores deem conta da demanda de trabalho. O que proponho aqui é diferente. Quero falar de autocuidado.

Compreendo que autocuidado vai além, o professor precisa cuidar de si como um ser inteiro, cuidar da sua saúde física e emocional. Para cuidar das suas emoções e da sua autoestima é fundamental cuidar da sua conexão consigo mesmo, com a sua essência. Entendo essência como essa parte mais profunda em nós, que está além das aparências, a nossa parte que deseja participar de nossas escolhas na vida, mas que nem sempre ouvimos.

Ao escrever esse texto eu fiquei me perguntando sobre o porquê de o professor não dar atenção ao autocuidado. Será que tem a ver com o fato de o magistério ser exercido majoritariamente por mulheres? Convido vocês a refletir um pouco sobre isso.

Ser mulher e ser mãe, embora sejam coisas diferentes, trazem os mesmos atributos universais, constituídos ao longo da história da humanidade. Podemos citar aqui alguns deles: acolher, cuidar, nutrir, proteger e escutar as emoções. Não é lindo? Sim, achamos lindo. O desafio começa justamente na integração desses atributos com os verbos educar e promover o crescimento.

Acontece que ser professora ainda se mistura bastante com a função de mãe. Sabemos que no desenvolvimento das crianças as professoras exercem em muitos momentos a função materna necessária quando acolhem, cuidam e apoiam seus alunos. Esse dinamismo é esperado e saudável, o desafio está em ampliar essa função para dar espaço a função de mestre, aquele que reconhece o potencial de seu aprendiz e lhe impulsiona no caminho da aprendizagem.

Mãe geralmente não sabe se cuidar, coloca as necessidades de todos antes das suas próprias. Não é muito raro encontrarmos mães que adoecem por não darem atenção a sua saúde física e emocional. Não é justamente o que vem acontecendo também com os professores de uma forma cada vez mais grave? Vide o crescente número de casos da síndrome de burn-out no magistério.

Finalmente, para fechar minhas reflexões, eu gostaria de trazer aqui o que observei ao longo dos anos em que tenho trabalhado na formação de professores. Os profissionais da educação costumam ter grande interesse em aprender técnicas que facilitem a aprendizagem de seus alunos. As descobertas neurocientíficas nesse sentido tem um grande público garantido, assim como os métodos de alfabetização e aceleração da aprendizagem. Percebo que os professores procuram formações que o qualifiquem a ensinar melhor. É nesse ponto que faço a minha última provocação. Dentro do processo educativo, cuidar deveria ter o objetivo final de ensinar o outro a se cuidar. Certo? Muito bem, como posso ensinar o outro a se cuidar se eu não me cuido? Como posso querer ajudar o outro a desenvolver habilidades sócio emocionais se eu não escuto minhas emoções? Como posso impor limites ao outro se eu mesmo não reconheço os meus próprios limites?

Está na hora de os professores usarem a regra do avião: coloque primeiro a máscara de oxigênio em você e só depois ajude a criança do seu lado a colocar a dela.

Professor, você precisa aprender a cuidar de si mesmo! Aprender a respirar, a relaxar, a dormir melhor, a se alimentar melhor, a confiar mais em seu próprio conhecimento e, principalmente, a se escutar. Esse é o nosso convite.



 
 
 

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