Freire-se. Não Freie. Freire-se.
- Rosana Giannoni
- 10 de set. de 2020
- 2 min de leitura
Setembro.
O mês de setembro nos floresce a alma.
Entre tantas ações que brotam em setembro, uma das principais, que permeiam os pensamentos de inúmeros professores brasileiros é com certeza, o aniversário de Freire.
Professor Paulo Freire. Paulo Freire. Freire.
Chego a creditar que não há, nos dias atuais, nenhum professor brasileiro, que nunca tenha sequer ouvido falar neste nome.
Atual patrono da educação brasileira, como consta na Lei nº 12.612/2012. Freire tem sido nos últimos tempos louvado, criticado, analisado, lido e relido. Talvez bem mais do que foi em toda sua trajetória educacional neste país.
Na história da pedagogia mundial, Paulo Freire, pernambucano, nascido em 19 de setembro de 1921, marcou presença. Incomodou, desacomodou e encantou estudantes de diversos cantos da América do Sul e do Norte, de inúmeros países europeus e do continente africano.
Este advogado, que sempre foi Professor, seguiu firme na área da educação, influenciando toda uma geração de educadores: Moacir Gadotti, Carlos Alberto Torres, Ana Maria Saul, José Carlos e Vera Barreto, Mario Sérgio Cortella, Braz Nogueira, Sérgio Haddad... a lista seria interminável, incluindo Eu e muitos de Vocês.
O variado espectro de temas de seu legado possibilita-nos transitar entre importantes assuntos: alfabetização, educação popular, educação de adultos, análise política da educação, organizações culturais, aquisição de autonomia e protagonismo social, entre outros.
Amorosamente nos convidou a pensarmos educação como um ato político, nos encorajou a lutarmos por uma ação educativa crítica, progressiva e transformadora.
Suas teses, a visão educativa, a perspectiva dialógica, fazem de seu pensamento um constructo atual e estimulante.
A ideia de transformar o mundo, de libertar oprimidos, de criticar uma educação bancária, normativa e pouco reflexiva, provoca as estruturas educacionais e sociais de 2020, tal qual provocou em 1963.
Os anos que nos separam da morte do Professor Paulo Freire, ocorrida em 1997, são um espaço de tempo curto para uma análise histórica rigorosa de sua contribuição para educação.
E, talvez seja este um dos motivos, de tropeçarmos diariamente na polêmica dos do contra e dos à favor.
Para uns, Paulo freire deve ser queimado, esquecido, neutralizado.
Para outros, reverenciado, aclamado, como alguém que se encontra fora ou acima das críticas.
Para educação e para Freire, estas duas posições me parecem pouco produtivas, afinal, ao lermos Paulo Freire percebemos que o próprio tinha plena consciência da transitoriedade daquilo que se faz e pensa e via nesta transitoriedade os sinais de permanência e de transcendência.
Em julho deste ano, dados da Pnad Contínua Educação, apontam 11 milhões de brasileiros analfabetos. São pessoas de 15 anos ou mais que, pelos critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não são capazes de ler nem ao menos um bilhete.
Quando pensamos analfabetismo no Brasil, desigualdades cronológicas, raciais e regionais agravam este cenário.
Em setembro, próximo à chegada da primavera, Paulo Freire, fará, assim, no presente, fará 99 anos... Estudá-lo, a nosso ver, se faz essencial.
Setembro.
Floremos.
Rosana Giannoni
Ai daqueles que pararem com sua capacidade de sonhar, de invejar sua coragem de anunciar e denunciar. Ai daqueles que, em lugar de visitar de vez em quando o amanhã pelo profundo engajamento com o hoje, com o aqui e o agora, se atrelarem a um passado de exploração e de rotina. (Paulo Freire)
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